2016: O ANO EM QUE O FEIJÃO IRRIGADO PAGOU AS CONTAS DA FAZENDA!
Por Daniel da Cunha, Consultor na PARNASSÁ consultoria agrícola
Revista Pivot Point Brasil,N º 07,Dezembro/2016; Mestres da Irrigação/pg.54-55
No início do ano de 2016, o Estado do Mato Grosso estava colhendo a soja plantada nas áreas irrigadas por pivôs centrais atingindo médias de aproximadamente 65 sacas/hectare, em contrapartida as áreas de sequeiro sofreram muito com os efeitos da estiagem reduzindo em 12,19 % a média geral de produtividade do estado, que foi de 51,9 sacas/hectare em 2014/15. Como se não bastasse, os efeitos dessa estiagem continuaram a castigar os produtores no milho safrinha, resultando numa redução média de 26,21 % das 105 sacas/hectare colhidos na safra passada, dados do Instituto Mato- grossense de Economia Agropecuária (IMEA). A quebra da safra da soja e do milho somado a alta do dólar, fez com que as cotações das commodities atingissem valores empolgantes, caracterizando um momento especial no agronegócio. Apesar do mercado com preços em condições nunca vistas, a grande maioria dos produtores não obtiveram sucesso no cultivo de soja e milho em sequeiro, isto porque não sobrou dinheiro no caixa do produtor, quando muito empatou a relação custo/receita. Neste contexto, a irrigação se mostrou como tecnologia crucial para o produtor, aumentando a produtividade das lavouras em até 70% quando comparado ao sistema de sequeiro.
Não podemos esquecer do nosso protagonista: o feijão carioca, que em 2016 atingiu preços históricos chegando a valer R$ 560,00/saca de 60 kg na praça de São Paulo. As más condições climáticas e os baixos estoques nacionais foram os principais fatores que estimularam a alta nos preços. Nesse contexto, o agricultor aproveitou para iniciar a 3º safra, que é totalmente dependente de irrigação, com investimento em alta tecnologia.
Apesar de ser uma cultura muito exigente em manejo de pragas e doenças, manejo de água no solo e também de temperaturas adequadas para pegamento de flores, o feijão, garantiu ao final do seu ciclo um lucro líquido variando de 6 a 15 mil reais por hectare. E qual seria o segredo do sucesso desse feijão irrigado?
A resposta está numa simples palavra: gerenciamento.
O segredo de um feijão irrigado de alta produtividade está no gerenciamento da irrigação. Mas o que seria exatamente isso? Gerenciar um processo é ter controle ou simplesmente saber o que está acontecendo e a partir disso tomar decisões baseadas em parâmetros reais. Na irrigação não é diferente, precisamos saber o quanto de água a planta perdeu para atmosfera, qual a capacidade de armazenamento de água do meu solo, quanto de água meu pivô aplica por dia, quantos dias e em qual fase está minha cultura e, não menos importante, quanto estou pagando de energia por hora de irrigação.
Quando um agricultor decide se tornar um irrigante é porque todos os ajustes que ele poderia fazer no manejo da fazenda já foram feitos e o que falta para aumentar sua produtividade é apenas o controle de umidade do solo. No entanto, ao se tornar um irrigante, ele se depara com vários outros questionamentos, tais como: Que quantidade de água vou aplicar?Que horas eu ligo e que horas desligo o pivô? E agora que o poder de “fazer chover” está nas minhas mãos, o que eu faço? E se der tudo errado, em quem vou colocar a culpa?
Belas perguntas, falando assim parece simples, mas a tomada de decisão de irrigação envolve fatores de alta complexidade (solo, clima, cultura, equipamento, sanidade, data de plantio, manejo da fazenda e mercado) que devem ser analisados simultaneamente por uma equipe multidisciplinar focada em produtividade aliado a sustentabilidade do sistema produtivo.
Os resultados de uma gestão de irrigação bem-feita são significativos e importantes, podendo ser vistos em dois itens que fazem brilhar os olhos dos produtores: a diminuição da conta de energia e o aumento de produtividade.
Somado a isso podemos citar: melhoria na sanidade da lavoura, no aproveitamento dos defensivos e adubos, melhoria na utilização de mão de obra, maquinário, diminuição da contaminação das águas superficiais e subterrâneas, aumento de vida útil do equipamento, comprovando em grande escala de que é possível produzir alimentos de forma eficiente.
Atualmente, as fazendas aplicam tecnologia de ponta em operações de plantio, pulverização, defensivos, colheita, secagem e armazenamento de grãos. No entanto, os sistemas de irrigação continuam fora do programa de gestão da fazenda, o motivo ainda não sabemos, pois se trata de um equipamento de alta tecnologia que pode fazer uma revolução dentro da propriedade quando bem operado.
Mas para isso temos que responder mais um questionamento. Será que um sistema tão complexo pode ser operado por profissionais amadores ou que tomam decisões sem parâmetros técnicos?
Obviamente que a resposta vai ser dada de acordo com o objetivo de cada irrigante, pois temos agricultores que se contentam em apenas adicionam água ao sistema de sequeiro.
Já outros querem ter o controle do sistema em suas mãos e procuram especialistas para contribuir nas análises dos parâmetros que envolvem a tomada de decisão. Certamente que em momentos de crise os eficientes irão garantir sua permanência no mercado. E falando em mercado, sabemos que cada dia mais a margem de lucro do produtor é diminuída com alta dos defensivos agrícolas, energia, custas trabalhistas, impostos, combustível e royalties; isso preocupa muito o agronegócio em geral porque se o produtor não consegue pagar as contas e obter remuneração para seus investimentos o mercado não anda. Portanto, ter um processo sem controle na fazenda é perigoso para a saúde dos negócios.
Em geral o ano foi excelente para quem trabalhou com agricultura irrigada e soube trata-la com a importância que ela merece, para isso citamos o exemplo do feijão no estado do Mato Grosso que bateu recordes de lucro líquido por hectare.
Chamamos atenção para a gestão do processo de irrigação, não podemos mais tratar irrigação de forma amadora, precisamos saber o porquê estamos aplicando determinada quantidade de água naquele momento, pois esse é segredo do sucesso na agricultura irrigada, principalmente para culturas exigentes como o Feijão.
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